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Hai umhas semanas chegou a triste notícia: o ser humano conhecido como Albert Hoffmann sofrera um ataque ao coraçom, ocasionando-lhe a parada de funcionamento dos seus órgãos vitais, e o cese da sua atividade cerebral. Assi, o 29 de abril de 2008, o Dr. Hofmann deixava de existir como tal, passando a vida que o animava a reintegrar-se no grande sistema vivo do que formamos parte. Nom lhe asustava a morte; el sabia que nom vinha da Nada, e portanto nom se reduziria à Nada. Tinha 102 anos e vivia na Suíça, onde nacera. Era um ancião lúcido e feliz, que queria ser lembrado como “um avó que ama jogar com os seus quatro bisnetos nos jardins e nos bosques”.
O Dr. Hofmann foi um dos científicos mais importantes (ou, melhor dito, potencialmente mais importantes, se lhe figeram caso) do século XX, devido ao seu célebre descubrimento: os efectos psicoactivos do LSD. Em 1938, trabalhando para a companhia química Sandoz, investigava o uso de derivados do esporom do centeo (claviceps purpurea) com fins medicinais. Sintetizou a dietilamida de ácido lisérgico, LSD, mais os experimentos nom chegárom a resultados satisfactórios e fôrom abandonados. Porém, cinco anos mais tarde, Hofmann decide continuar a fazer provas. E o 16 de abril de 1943 entra em contacto accidentalmente, através dos seus dedos, com umhas pingas de LSD-25. Notando-se mareado e inquieto, deixa de trabalhar e vai-se para casa, onde tem umha intensa experiência sensorial dum par de horas, na que ve cores e formas fantásticas, marabilhosas. Três dias mais tarde, o 19 de abril, decide ir mais alá, e ingire voluntariamente umha dose moito maior, 250 μg. Despois, colhe a bici e vai-se para a sua casa. O 19 de abril é, hoje em dia, o “Dia da bicicleta”, em memória daquel passeo pioneiro.
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No passeo já experimentou umha diferente percepçom da realidade, mais nada como o que o agardava ao chegar a casa, o que se conhece como “mal viage”: medos irracionais, angústia, temor a ter-se volto irremediavelmente tolo, a estar posuído. Ao cabo dum tempo, sem embargo, essas sensações fôrom-se transformando noutras de placidez, bem-estar e gratitude. Os estímulos acústicos transformavam-se em ópticos, as formas e cores mudavam constantemente.
Tomorrow, “My White Bycicle” (1967)
Que acontecera? O que Hofmann sintetizara era o equivalente das drogas místicas usadas desde tempo antigo para entrar em trance, para comunicar-se com a natureza ou os deuses ou o nome que lhe dera cada cultura. Os efectos do LSD som similares aos dos fungos psilocibes, por exemplo. Nesse sentido, nom era só umha percepçom distorsionada da realidade o que ofereciam, senom a possibilidade de trascender-se a si mesmo dum jeito só dificilmente acadável mediante a meditaçom ou outras técnicas. É dizer, a possibilidade de ver-se a si mesmo liberado dos prejuíços e máscaras da vida diária, e de decatar-se do artificial e pobre de moitos conceptos empregados a cotio, como a diferença entre indivíduo e colectividade, entre tempo e espaço, entre o eu e o cosmos, entre formas, cores, sons…
Hofmann ficou transformado despois da sua experiência com o LSD, ao igual que lhe aconteceria a moitas outras persoas.
Durante 20 anos, o LSD foi utilizado em psiquiatria, medrando o interesse e a investigaçom acerca del. A meiados dos ’60, o seu uso popularizou-se entre um sector da mocidade mais rebelde dos USA (especialmente a que povoava a zona de Haight Ashbury, em San Francisco), na que estava agromando umha série de manifestações culturais e sociais que dérom lugar à chamada contracultura. Nom estavam sós: gente “maior” como o poeta beatinik Allen Ginsberg, o profesor de psicologia em Harvard Timothy Leary (o autêntico “guru” do LSD) ou o escritor británico Aldous Huxley faziam de pioneiros e referentes. O seu objectivo colectivo era liberar as mentes para fazer a verdadeira revoluçom, e criar por fim o Home Novo que outras utopias esqueceram ou sepultaram baixo o culto ao Partido ou ao Trabalho. E por suposto, passando-o o melhor possível no processo. Nisto jogava um papel central o LSD (e em menor medida, a maconha), que passava assi a um uso ritual, que às vezes poderiamos denominar recreativo, em contraposiçom ao exclusivamente terapéutico (se é que se pode fazer essa distinçom com um 100% de claridade) que vinha tendo até o momento.
Moléculas de LSD e de psilocibina, debuxadas por Albert Hofmann
Evidentemente, nom podia durar. O governo dos USA prohibiu o LSD em 1968, o que trouxo consigo, de jeito sorprendentemente acelerado, todos os males da prohibiçom: marginalidade, delinqüência, abusos. A excusa perfecta para acabar com um sonho e com a penúltima rebeliom juvenil, como assi foi. O documental Hippies, visualizável em TuTV , explica-o moi bem (graças a Blues Propícios pola ligaçom).
A pesar dos alarmismos, gente como o própio Hofmann, os demais mencionados aquí, e moitos outros, especialmente os músicos e artistas daquela época, experimentárom com generosidade com o LSD (os Beatles, por exemplo, admitirom ter feito centos de “viages”), sem efectos adversos. Cary Grant, que seguiu um tratamento psiquiátrico no que consumiu 60 vezes a substância, deixou esta fermosa testemunha:
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"All my life, I've been searching for peace of mind. I'd explored yoga and hypnotism and made several attempts at mysticism. Nothing really seemed to give me what I wanted until this treatment. I have been born again. I have been through a psychiatric experience which has completely changed me. I was horrendous. I had to face things about myself which I never admitted, which I didn't know were there. Now I know that I hurt every woman I ever loved. I was an utter fake, a self-opinionated bore, a know-all who knew very little. I found I was hiding behind all kinds of defenses, hypocrisies and vanities. I had to get rid of them layer by layer. The moment when your conscious meets your subconscious is a hell of a wrench. With me there came a day when I saw the light."
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