terça-feira, 28 de abril de 2009

Judy Layzer e a sustentabilidade

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Judy Layzer é professora de Política Ambiental no MIT. Recentemente lim uma espléndida entrevista na MIT Sloan Management Review, na que explica os seus pontos de vista sobre a sustentabilidade. A seguir traduço o que me pareceu mais destacado, mas os que não tedes problemas com o inglês podedes ler a versão original.


Como defines sustentabilidade?

Tenho uma definição de sustentabilidade que reflicte os meus valores, e é que temos que operar dentro dos límites físicos e biológicos da Terra. E dentro disso, necessitamos desenvolver sistemas sociais que sejam justos e sistemas econômicos que poidam funcionar ao longo do tempo - que não se destruam a si mesmos nem aos recursos dos que dependem.

Para mim, é sobre os sistemas que sustentam a vida. São da corda de Herman Daly. Tomo a sua definição de sustentabilidade como própria.

Qual dirias que é a definição comunmente aceitada?

(...) A definição convencional é a do taburete de três patas: que a justiça social, o desenvolvemento econômico, e a regeneração ambiental são todos componhentes essenciais, e que hai esse ponto doce no médio onde todos se atopam. Eu não uso o taburete de três patas. Não lhe atopo utilidade. A minha metáfora preferida é o contêiner. Isto é, os nossos sistemas sociais e econômicos tenhem que operar dentro das restricções dum sistema natural saudável, com capacidade de recuperação; o sistema natural é o contêiner para os sistemas sociais e econômicos.

Mas essa definição não só é controvertida, também é a antítese de como o mundo está organizado actualmente em termos de como manejamos a economia global. Se tentássemos implementar a minha definição, conlevaria uma transformação dum tipo que moi pouca gente pode realmente imaginar (...) A gente que acredita o que eu acredito está em contra do modelo econômico estándar, o qual apenas di nada sobre os sistemas naturais - e, de feito, assume que os produtos do engenho humano são infinitamente substituíveis por capital natural. Eu não acredito nisso. Por suposto, é moito mais cómodo pensar que podemos virar sustentáveis sem renunciar a nada.

A minha visão é que temos que consumir um montonazo menos (...)


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Adoita-se dizer que as crenças cômodas não vão mudar até que a gente comece a sentir efectos diretos que as ponham a prova. Quando os preços da gasolina subam abondo, talvez conduza menos; os mecanismos de realimentação estão aí, e sufro os efectos persoalmente. O câmbio climático, não tanto -não é?

Bem, os temas relativos à auga - muitos dos quais dependem do câmbio climático - estão nos primeiros postos da agenda nos estados ocidentais dos USA (...). Os californianos não estão mais orientados cara a sustentabilidade porque tenham ética ecologista; é também porque estão a experimentar os efectos do câmbio climático, com problemas com a auga e lumes mais extremos e frequentes. As suas vidas diárias estão a ser afectadas em muitos casos.

Que pressões relacionadas com a sustentabilidade pensas que vão ter maior impacto? Que vai ser o primeiro que faga que a gente câmbie os seus comportamentos?

Penso que nos USA vão ser os preços da energia, isso está claro. Porque somos suficientemente ricos para desalgar auga e reconstruir infraestruturas para tratar o tema da auga. E temos o dinheiro para limpar a contaminação do ar e da auga a nível local. Globalmente, os desafios medioambientais estão muito mais interrelacionados a curto prazo do que o estão nos USA, mas aqui vão ser os preços da energia.

Hai um montom de câmbios saudáveis e de oportunidades que virão a consequência da suba dos preços da energia, por suposto. Nas cidades, haverá um massivo abandono do carro. Haverá mais ênfase no transporte de massas a pé ou em bicicleta. Assi como um maior ênfase em financiar infraestrutura que sustente essas formas de desprazar-se, em oposição às infraestruturas baseadas no carro. No que respeita aos edifícios, prevejo um interesse tremendo por modernizá-los. Prevejo que haverá mais esforços por moderar os problemas medioambientais inmediatos nas cidades, como ilhas de calor ou problemas com as chúvias, o que significa mais teitos verdes, paisages urbanos verdes, plantações de árvores.

Acho que a gente voltará às cidades, e quando se tenham que desprazar para ir ao trabalho, fará-no doutros jeitos. Os longos desprazamentos em carro estão a diminuir, como deve ser.

Todo isto é em certo sentido o sonho de qualquer urbanista. É a forma em que pensavamos qe a gente deveria estar a viver de todas formas.

Quais pensas que vão ser os obstáculos para afrontar estes problemas?

O maior impedimento é o feito de que nenguma das cousas que são limitadas no nosso sistema natural tenhem preços. Não ponhemos preço ao carvão, não ponhemos preço aos serviços dos ecosistemas. Se imos fazer isto - quero dizer, se realmente o imos fazer - então temos que pôr-lhe preço ao que é escaso.

Começando polos preços dos recursos naturais finitos...

Hai que começar por aí. Por dizer: que escasea no mundo hoje em dia? E não são os seres humanos, nem é o capital feito polo home. Nadamos no capital financeiro. Mas o que é cada vez mais aterradoramente escaso é o capital natural. E apenas temos começado a falar sobre como pôr-lhe preço.

Se eu fosse ditadora mundial, o primeiro que faria seria reduzir drasticamente os impostos sobre o trabalho e a câmbio pôr-lhe preço aos recursos naturais. Obter as rendas públicas desse jeito. Isso seria para mim o mais importante que poderiamos fazer para colocar-nos no caminho da sustentabilidade.

Os obstáculos políticos, obviamente, são enormes. Em primeiro lugar, a gente que tem o poder político atualmente não concorda comigo. Isso é um problema, porque são os que teriam que pôr-lhe preço ao capital natural. E a indústria joga com o desejo cultural de ter todas estas cousas de balde, ainda que hai alguma gente na indústria, uma minoria, que realmente trabalha a prol da sustentabilidade.

Isto não é idéia minha, por certo—Herman Daly leva 30 anos dizindo-o, junto com um punhado de economistas ecologistas.

A predição econômica clássica sobre isto, não seria que não nos deveriamos preocupar seriamente de pôr-lhe preço às cousas até que comecemos a sufrir as consequências de não fazê-lo?

Si, mas... Hai um par de problemas com isso. Por uma banda, a globalização enmascara os verdadeiros custos da degradação ambiental durante moito tempo, porque os países ricos podemos apropriar-nos dos recursos e do trabalho dos que são menos capazes de resistir.

O outro problema é que os sistemas naturais não evoluem suavemente, senão de forma abrupta. Assi que os mercados não reflectirão os problemas até que seja tarde de mais. Podemo-nos atopar com um sistema natural que aparentemente funciona bem, e que de súpeto fique destruído por completo. E para quando reconheçamos o dano, já será realmente tarde de mais para fazer nada (...)

Hai algum desenvolvimento relacionado com a sustentabilidade que aches prometedor?

Si. Uma àra que representa uma verdadeira oportunidade é o pulo cara o biorregionalismo na comunidade ambientalista. O biorregionalismo seria a criação de unidades que estejam baseadas nalgum carácter biofísico—como a Baía de Chesapeake, que é uma bacia.

Durante moito tempo os ambientalistas venhem interessando-se em que quase todo suceda ao nível biorregional, incluíndo a construção de economias arredor desses níveis. Para mim isso é moi sensato. Não redundaria numa autosuficiência biorregional completa, mas rematariamos por organizar os nossos sistemas de alimentação e de resíduos, por exemplo, dentro dessas regiões ecológicas.

Não está isso em contraste direto com todas as tendências globalizadoras de mercados que conhecemos?

Si. Ainda que, com os preços da energia aumentando, já nos estamos a decatar de que é mais barato produzir a comida localmente que a 10.000 kilómetros de distância. Podem-se dar os mesmos argumentos sobre o transporte, edificação, energia. Pensa nas oportunidades energéticas regionais, por exemplo. Em Nova Inglaterra, produzirias muita eólica; em Arizona, muita solar; nas Rochosas, geotérmica. Mas o tema é que pensarias desse jeito. Eu acho que o potencial em termos de dignidade humana e conexão real com a gente que vive onda ti é enorme.

Queres dizer que seria um paso atrás cara a aldéia pre-industrial—esse tipo de interconexão e interdependência comunitária…

Estamos noutro ponto já, assi que não imos retroceder ao passado, mas poderiamos inventar algo novo que conseguisse alojar os milhares de milhões de persoas da Terra e fazê-los mais conectados os uns com os outros. Penso que precisamos dum novo modelo de desenvolvimento para um mundo de 9.000 milhões de persoas. Hai que reconhecer que nisto vou mui à contra do pensamento econômico dominante, mas o biorregionalismo é muito mais comum do que adoitava ser.

Existe alguma maneira de que as empresas podam começar a capitalizar estas tendências e tomá-las em conta nos seus planos estratégicos?

Bem, eu som fan do biomimetismo—isto é, desenvolver soluções que imitem e aprendam dos sistemas naturais (...) Também hai uma grande oportunidade em innovações que fagam os produtos mais simples (...) Por exemplo, uma das poucas cousas que merquei este ano foi um tendedeiro fantástico. Alguém inventou como fabricá-lo com materiais relativamente benignos e de forma que dure para sempre, assi que é algo relamente de alta qualidade. E agora já não tenho que usar a secadora. Este produto realmente simplificou-me a vida.

As empresas que atopem a forma de fazer cousas tendo em conta tanto o aspecto biológico como o técnico—de forma que se considere o ciclo de vida do produto—vão triunfar. Penso que vai haver uma demanda de produtos deste tipo, esse é o meu prognóstico.

Parece que descreves produtos e experiências que nos conmovem por razões que talvez nem entendemos—agás polo feito de que são, francamente, agradáveis. Cres que esses benefícios serão cada vez mais reconhecidos e pagados?

Si. E às vezes as cousas são agradáveis porque fam muito sentido. Ás vezes podemos perceber isso—e eventualmente lhes assignaremos um valor (...)

Uma economia sustentável não vai estar baseada no desejo de consumir tantas porcarias como seja possível. Vai estar baseada no desejo de menos cousas, mas cousas realmente boas. Boa comida, bós produtos, cousas que durem.

Este é realmente um modelo diferente. E, sabes, a gente não se vai fazer rica. Mas haverá mais gente que poida viver moderadamente bem, e, não será isto muito melhor? No fondo, quem quere ser rico?

Bem, moita gente quer ser rica.

Aí é onde creo que realmente temos que fazer um trabalho de marketing para convencer à gente de que não é preciso para ser feliz, ou para estar bem. As investigações amosam concluintemente que não o é. Moitos de nós somos a prova vivinte de que não o é. Eu rejeito constantemente oportunidades de ganhar mais cartos porque prefiro ter mais tempo. Não preciso ter mais cousas.

Sabes que estás a soar como mui guai, não si?

Si... mas o gracioso é que, se miras para mim, não poderia ser menos guai. Não encaixo no modelo. Não vivo numa cabana, como seria a caricatura. E a maioria da gente que sinte como eu tampouco encaixa no modelo. É uma caricatura estúpida que foi mui efectiva para marginalizar a preocupação polo meio ambiente. Funcionou moi bem durante um tempo, mas bom, acho que já rematamos com isso.

9 comentários:

Sis disse...

Gustame o tema da bio-rexionalidade, xa o tiña oido antes. Dende esa sempre miro de onde veñen as cousas que hai nas tendas. Se son de moi lonxe procuro non mercalas. Dar uns centimos de máis por algo que se produce preto en vez de de a mil kilómetros, ben pagan a pena polo aforro enerxético que supón a reducción do transporte.

Carminha disse...

A min lémbrame moito ao meu pai, mercar cousas que duren para toda a vida, reciclar todo, non tirar nada..... Vale.... Non penso mercar nada en Ikea!!!

Carminha disse...

Bueno, agora en serio, a min tamén me gusta a idea do biorrexionalismo, e (aínda non lle dei moitas voltas) pero acho ben interesante o que di dos impostos, en función dos recursos naturais que consumes...
Por certo... xa me estou a imaxinar a demagoxia dos detractores!!!

Paulodelourán disse...

Estamos tan lonxe disto...: xa vedes, o leite de Francia máis barato que o daquí. Isto ven moito en relación co artigo do minifundismo.
Quén carallo creou a necesidade de mercar froita ou verdura envasadas?
Pór qué tódalas vivendas levan cociña eléctrica,cando é evidente que o rendemento enerxético está a anos luz da de gas?
Quén carallo necesita unha secadora pra a roupa?
E aínda así, con este crecemento demográfico, ¿credes que hai solucións non traumáticas? Eu non.

Deb Gallagher disse...
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Sr. J disse...

Devo aclarar o seguinte: a MIT Sloan Management Review puxo-se em contacto comigo para informar-me (mui amavelmente, por certo) de que ao reproduzir a entrevista integramente estava a violar as leis do copyright, mas que se queria podia publicar um resumo.

Despois de um intercâmbio de e-mails, acordamos que podia manter as partes traduzidas, e simplemente tinha que quitar a transcripção da entrevista original que punha ao remate (e que realmente só puxera por se acaso eles a retiravam da sua página).

Aclarado o tema, agradeço à MIT Sloan Management Review a sua comprensão e amabilidade ao deixar-me manter o post.

Anônimo disse...

Jandro. Unha curiosidade:

O post que retiraches coa transcripción ¿estaba traducido a galego?
Ti cres que o censor que te conminou a retiralo, entendía o que poñía ou interpretou que se trataba dunha tradución?

Sr. J disse...

Não, o único que me dixérom de retirar foi a reprodução (não tradução) do artigo original. É dizer, não queriam que figesse um corta-pega literal. Estivérom encantados de deixar-me manter o post atual, que é uma tradução apenas ligeiramente resumida.

Anônimo disse...

Ok