sexta-feira, 24 de abril de 2009

EASTER RISING

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Tal dia como hoje, há 93 anos, um pequeno grupo de patriotas irlandeses alçava-se em Dublin contra o domínio británico. Eram alguns dos melhores políticos, pensadores e activistas com os que contava o povo irlandês. Mal organizados e com pouco apoio popular, realizárom uma arriscada acção que acabou no que, a priori, semelhava um monumental fracasso. Todos os líderes, agás um, fôrom assassinados ipso facto e sem contemplações polo Império Británico. Mas o seu sangue foi (neste caso não é um tópico) autêntica "semente de vencer": pouco mais dum lustro despois, Irlanda constituia-se em Estado Livre. E o único supervivinte de aquel grupo de arroutados, Eamonn de Valera, regeria durante décadas o destino do país. A seguir, Vítor Martins resume-nos os acontecementos:
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[Foto direita: a Central de Correios de Dublin]


O Alçamento de Páscoa de 1916 (em irlandês: Éirí Amach na Cásca) é um acontecimento importante da História irlandesa e faz parte da memória colectiva do povo irlandês. Trata-se da revolta dum povo contra a ocupaçom británica, embora os factos acontecidos durante a Semana Santa desse ano em Dublim nom se tivessem estendido ao resto da Irlanda.

Antecedentes
Em 1 de Agosto de 1800 o Parlamento de Dublim aprova o Ato da Uniom com a Gram Bretanha, o que supom a sua auto-imolaçom e traslado a Londres. O novo status quo nom é unanimemente aceite já que em 23 de Julho de 1803 um levante comandado por Robert Emmet contra a dominaçom británica ataca o Castelo de Dublim, quartel general do ocupante.

Durante o século XIX a populaçom irlandesa, enfraquecida pola pobreza, sofre terríveis fomes: de 1845-47 as colheitas de batatas perdem-se, cifrando-se em quase um milhom os mortos e em dous milhons as pessoas empurradas pola pobreza à emigraçom, nomeadamente aos Estados Unidos. Estas dificuldades contribuirom para reforçar um sentimento anti-británico, já fortemente ancorado na populaçom.

Contra este estado de cousas, em 1848 produze-se umha primeira rebeliom, a do movimento Irlanda Nova, dirigida por W. Smith O'Brien. Dez anos mais tarde, em Dia de Sam Patrício funda-se simultaneamente em Dublim e em Nova Iorque a Irmandade Republicana Irlandesa (IRB), umha organizaçom revolucionária cujo fim é a preparaçom dum levante geral na Irlanda.

A fundaçom da Liga do Autogoverno consegue em 1873 o seu objectivo de ver reconhecida a autonomia (Home Rule) no seio do Reino Unido. Porém, o projeto, que conta com o apoio dos liberais británicos, bate com a oposiçom dos conservadores. O Parlamento de Westminster rejeita até em três ocasions (1886, 1893 e 1912) as propostas de autonomia irlandesa promovidas polo governo británico. Finalmente o projeto será validado polas disposiçons da Acta do Parlamento de 1911 e ratificado polo rei Jorge V em Setembro de 1914. No entanto, o início da Primeira Guerra mundial impede a sua entrada em vigor.

Em 1912 no Norte, funda-se a Força Voluntária do Ulster (UVF) para opor-se à autonomia, mentres no Sul, constituiu-se os Voluntários Irlandeses para a apoiar. James Connolly [foto direita], chefe do Partido Trabalhista Irlandês e os líderes sindicalistas republicanos fundam igualmente o Exército Civil Irlandês (ICA) para proteger os participantes do movimento grevista de 1913.


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A preparaçom do Alçamento
Desde Agosto de 1914 o Comité Militar do IRB tem decidido preparar umha acçom de envergadura antes do fim da guerra mundial. O IRB coloca os seus partidários em postos chave no seio dos Voluntários Irlandeses, a principal milícia nacionalista cujo chefe, Eoin Mac Neill, tenta negociar o seu apoio à guerra com o governo británico a cámbio da Autonomia. Desencadea-se umha luta interna com este último para a preparaçom dessa revolta.

Em 16 de Janeiro de 1916 o Conselho Supremo do IRB, junto com o ICA decidem preparar umha insurreiçom geral. Segundo o acordado com o diplomata Roger Casement, lord protestante simpatizante da causa republicana, nessa Semana Santa deveria-se produzir a chegada de armamento de procedência alemá. Eoin MacNeil decide finalmente apoiar a insurreiçom.

Em 20 de Abril, o cargueiro alemám Aud, com 20.000 fuzis é interceptado por umha patrulha británica e as armas nom chegam. Umhas ordens contraditórias som entom enviadas aos nacionalistas. Alguns chefes, como MacNeill, desejam suspender a operaçom, outros como Patrick Pearse, professor, advogado, poeta e membro do Comité Central dos Voluntários, desejam o seu desecadeamento. Finalmente, a data de início é adiada do domingo de Páscoa para a Segunda-feira e os insurgentes som menos numerosos e estám menos armados do previsto.

A revolta
A Segunda-feira de Páscoa, 24 de Abril, 120 membros do ICA e 700 das Forças Voluntárias Irlandesas, simulando um desfile, ocupam a rua O'Connel de Dublim. De súbito é ocupada a Central dos Correios assim como diversos locais-chave da cidade. Os chefes desta acçom som Patrick Pearse, James Connolly, Tom Clarke, Sean MacDiarmada, Éamon de Valera e Joseph Plunkett; Constance Markievicz dirige a brigada feminina do ICA. Por outro lado, um comando de 200 mulheres, organizadas na Cumann na mBan, fornecem víveres e medicamentos aos rebeldes.

Conforme o programa elaborado, Patrick Pearse proclama a República Irlandesa perante umha malta entusiasmada. Houve algumhas acçons noutras partes da Irlanda, mas, excepto para o ataque ao quartel da Polícia Real da Irlanda (RIC) em Ashbourne (Condado de Meath), tudo fica mui longe da insurreiçom geral prevista. De facto, os insurgentes som vistos como traidores pola maioria da opiniom pública mentres muitos Irlandeses lutavam com os británicos nas frentes da França.

Durante todo o meio-dia os assaltos do exército británico som rejeitados e alguns quartéis som atacados polos Voluntários. Os ladrons aproveitam o caos para atracar as lojas da zona da Central dos Correios e som detidos polos revolucionários. Porém, os británicos conservam o control da central dos telefones o que permite alertar às unidades de Curragh, Belfast, Athlone e Templemore que convergem em Dublim em apoio da ocupaçom británica.

O dia seguinte, 26 de Abril, mentres os insurgentes emitem por rádio a proclamaçom da República, o contra-ataque británico obtém sucessos militares e os primeiros reforços chegam das províncias.

Após cinco dias de combates, os insurgentes acham-se numha situaçom desesperada. Em 29 de Abril Patrick Pearse [foto da direita], Presidente do Governo Provisório, decreta o fim dos combates e consegue convencer alguns irredutíveis de que a insurreiçom fracassara. A rendiçom sem condiçons é assinada o mesmo dia.

Balanço dos combates
Ao cabo de seis dias contam-se ao redor de 400 mortos (318 civis e de 60-80 insurgentes) e 2614 feridos (2 217 civis). Quando Pearse assina a rendiçom, ainda ficam 1300 voluntários e 220 membros do ICA.

A repressom
A repressom das autoridades británicas é implacável: 3430 homes e 79 mulheres som arrestados em Dublim, chegando a 5000 o número de pessoas detidas na Inglaterra e País de Gales. Os líderes independentistas forom julgados por um tribunal marcial que emitiu 90 penas de morte. Entre o 3 e 12 de Maio quinze som executados na prisom de Kilmainhamm, entre eles sete membros do Governo Provisório. O primeiro em ser afuzilado é Patrick Pearse. James Connolly, ferido durante a insurreiçom, incapaz de se erguer é sacado do hospital e executado na mesma cama onde se recuperava. Roger Casement, que intermediara entre os insurreitos e o Kaiser, é aforcado. Éamon de Valera safa a pena capital graças à sua nacionalidade americana.

Umha repressom sem distinçom assola o país e líderes como Arthur Griffith ou Eoin MacNeill forom investigados ainda que nom participassem directamente nos acontecimentos. No mês de Agosto, sob a pressom do presidente norte-americano Woodrow Wilson, novo aliado do Reino Unido durante a Primeira Guerra mundial, produze-se umha primeira vaga de libertaçons dos republicanos detidos, em Dezembro tem lugar umha segunda, sendo libertados os últimos prisioneiros em 1917.

Consequências
O Levante de Páscoa foi um fracasso incontestável tanto do ponto de vista militar como do político. O levante nom foi geral, Dublim foi o lugar principal dos acontecimentos e se bem os insurgentes se beneficiarom do efeito supresa o primeiro dia, a contra-ofensiva do exército británico virou a situaçom, pois o controle sobre os telefones permitiu-lhe realizar um alerta geral e a chegada de reforços.

No plano político a repressom elimina umha parte importante dos pensadores e activistas republicanos. Porém, por primeira vez em muito tempo na Irlanda umha insurreiçom foi dirigida por católicos e nom por protestantes opostos às perseguiçons e à discriminaçom engendradas polo secular sistema colonial. O movimento nacionalista irlandês demonstrava a sua madurez, que estava organizado e que nom se conformava com simples reformas sociais ou umha autonomia senom com a independencia total. Aliás, a brutalidade da repressom británica conseguiu trazer a força física do republicanismo de volta à vanguarda da política irlandesa, galvanizada polo Sinn Féin, dando a volta à opiniom generalizada de que a insurreiçom fora um erro. Nas Eleiçons Gerais de 1918, a última eleiçom realizada em toda a ilha da Irlanda para o Parlamento británico, os republicanos ganharom 73 cadeiras das 105.

Existem muitas interpretaçons literárias e politicas a esta aventura, mas é acima de todo o fracasso do Home Rule e dos partidos nacionalistas moderados irlandeses que a apoiaram, desbordados polo republicanismo independentista. Com efeito, essa Segunda-feira de Páscoa foi o primeiro passo para a República da Irlanda e a Guerra da Independència, assim como a raiz do conflito do Ulster.

Em 1966 com ocasiom do 50º aniversário da revolta, a estátua do almirante Nelson, situada sobre umha coluna de quarenta metros na rua O'Connel de Dublim, é destruída por atentado à bomba.

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