domingo, 10 de maio de 2009

Crónica da charla de Noam Chomsky no MIT

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Quando me decidim a fazer a estadia no MIT tinha, ademais do lógico interesse no tema da investigação, um par de alicientes adicionais: 1) ver algum partido dos Celtics, e 2) ver e ouvir a Noam Chomsky ao vivo (pedir-lhe alguma colaboração para Outra Esquerda já seria demasiado...)


Uma vez que já fum um par de vezes ao Garden, ficava por cumprir o 2º objectivo... e estava por pensar que seria complicado, pois não tinha notícias do Emérito Professor de lingüística. Mas a passada segunda-feira (4 de maio), ao consultar a interminável lista de eventos desse dia, atopei-me com “Palestine Awareness Week. Chomsky on Palestine-Israel”. Bingo!


O tema não era quiçais o mais sugerente: mais uma vez a escoitar falar sobre o irresolúvel conflito de Oriente Próximo, em lugar de escoitar o que Chomsky nos poderia dizer sobre... bem, basicamente sobre qualquer outra cousa; por exemplo, sobre a sua conceição da anarquia, como já temos recolhido nestas páginas. Mas bom, tinha que ser interessante, e assi foi.


Num auditório ateigado de gente bem predisposta, Chomsky estruturou a sua charla em 3 partes. Na primeira, repassou a história dos últimos 40 anos de conflito, sempre desde a perspectiva da actuação USAmericana. Começou lembrando como a postura dos USA tem consistido desde 1971 em obstaculizar o “Consenso Internacional” que avoga pola constituição de 2 Estados. E como na prática tenhem apoiado a postura israeli de que já existe um estado palestiniano, chamado Jordânia, e que o status de Palestina deve ser determinado por Israel.


Diferenciou entre um autêntico estado palestiniano e o que Netanyahu denominara numa ocasião “polo frito”: referira-se a que eles estavam dispostos a dar-lhes algumas terras nas que Israel não tivesse interesse e largar para ali os palestinianos, e se queriam chamar-lhe a isso um estado, podiam fazê-lo... ainda que também podiam chamar-lhe de qualquer outra forma, como “polo frito”. Assi pois, para Chomsky a chave era se os USA estavam dispostos a apoiar a criação de um estado verdadeiramente digno de tal nome ou simplemente a seguir apoiando a doutrina de Netanhayu. Na sua opinião, só houvo um momento em que os USA mudárom a sua postura, e foi brevemente durante os últimos meses da presidência de Clinton.


Na segunda parte, Chomsky analisou que possibilidades haveria na atualidade de chegar à solução dos dous estados. Amosou escassa confiança na política da administração Obama, que nem sequera está disposta a escoitar o governo eleito polos palestinianos. Porém, Obama não é exactamente continuísta, senão que avoga por reformular as suas prioridades no Oriente Próximo, querendo isto dizer, basicamente, que aposta por deixar a um lado o tema Israel-Palestina e formular uma aliança... contra o Irão. Para o qual, os USA não duvidam em se aliar com estados tão pouco modélicos como a Arábia Saudita ou o Egipto. Mas isto não significa que se deixe de apoiar a Israel; ao contrário, a ajuda USAmericana mesmo se vai incrementar.


Na terceira parte foi o turno das preguntas desde o público. Foi aqui quando nos decatamos de que, ademais da voz cascada, o bom de Noam está já algo surdo (como é natural em alguém de 80 anos). Mas não por isso deixou de respostar às preguntas que lhe fixerom durante três quartos de hora, até que a organização dixo que havia que parar. Nas suas respostas, amosou-se céptico sobre as possibilidades de que a UE ou China exerçam nenguma influência no conflito: a China por não incomodar os americanos, os europeus por não ter uma força militar própria (a respeito disto, dixo que a razão de ser da OTAN hoje em dia era principalmente manter a Europa dependente militarmente dos USA). Preguntado sobre os palestinianos que foram expulsados das suas terras antes de 1967, dixo que deveriam ser autorizados a regressar a elas, com apoio da ONU, mas que isso desgraciadamente era mui improvável. E que, se se assumia que o seu retorno era impossível, como mínimo deveriam ser relocados noutro sítio. Não todo foram preguntas amistosas: preguntado sobre se os israelis deviam aturar o lançamento de foguetes desde Palestina, se havia direito a isso, Chomsky respostou que para el, esses lançamentos eram actos criminais. E que, se não “nos” gustavam (este “nós” referido aos usamericanos), talvez deveriamos dar-lhes bilhões de dólares aos palestinianos para evitá-lo (não engadiu “como fazemos com Israel”).


Cumpre lembrar que Avram Noam Chomsky (esse é o seu nome completo), aínda que nado nos USA, é de pais judeus (seu pai era um judeu da Ukraina, sua nai da Bielorrússia), foi criado no que el descreve como um “ghetto judeu” de Philadelphia, e mesmo fijo a sua tesina sobre o hebreu moderno. Portanto, dificilmente se lhe poderá acusar de antisemitismo; e dada a sua trajectória intelectual, acho que ninguém poderá acusá-lo sem ruborizar-se de fazer parte de uma suposta esquerda pro-islamista... desqualificações que estamos afeitos a escoitar em boca de alguns quando ouvem críticas semelhantes as que fai Noam Chomsky.


Enfim, a ver se outro dia fala do socialismo libertário! ;-)


4 comentários:

Carminha disse...

Sinto unha enooooooooooorme envexa!!! Obrigada por facernos sentir algo partícipes da charla.

Igonzalez disse...

¿pudiste hacer alguna pregunta?

ke conste ke el chomsky ese tampoco dice cosas "espectaculares" que no conozcamos ya ;-)

Sr. J disse...

Poderia ter feito alguma pregunta, mas não se me ocorreu nada. Tes razão em que neste tema, Chomsky não di nada do outro mundo... é todo de sentido comum (o que curiosamente é minoritário). Por isso dizia que bem podia ter falado doutras cousas... desde lingüística à sua conceição da política, tem opiniões muito mais interessantes.

Anônimo disse...

Efectivamente, como todos sospeitabamos, son un garrulo. Coido que non lera nada de Chomsky...nunca. Tereino que arranxar