Quando me decidim a fazer a estadia no MIT tinha, ademais do lógico interesse no tema da investigação, um par de alicientes adicionais: 1) ver algum partido dos Celtics, e 2) ver e ouvir a Noam Chomsky ao vivo (pedir-lhe alguma colaboração para Outra Esquerda já seria demasiado...)
Uma vez que já fum um par de vezes ao Garden, ficava por cumprir o 2º objectivo... e estava por pensar que seria complicado, pois não tinha notícias do Emérito Professor de lingüística. Mas a passada segunda-feira (4 de maio), ao consultar a interminável lista de eventos desse dia, atopei-me com “Palestine Awareness Week. Chomsky on Palestine-Israel”. Bingo!
O tema não era quiçais o mais sugerente: mais uma vez a escoitar falar sobre o irresolúvel conflito de Oriente Próximo, em lugar de escoitar o que Chomsky nos poderia dizer sobre... bem, basicamente sobre qualquer outra cousa; por exemplo, sobre a sua conceição da anarquia, como já temos recolhido nestas páginas. Mas bom, tinha que ser interessante, e assi foi.
Num auditório ateigado de gente bem predisposta, Chomsky estruturou a sua charla em 3 partes. Na primeira, repassou a história dos últimos 40 anos de conflito, sempre desde a perspectiva da actuação USAmericana. Começou lembrando como a postura dos USA tem consistido desde 1971 em obstaculizar o “Consenso Internacional” que avoga pola constituição de 2 Estados. E como na prática tenhem apoiado a postura israeli de que já existe um estado palestiniano, chamado Jordânia, e que o status de Palestina deve ser determinado por Israel.
Diferenciou entre um autêntico estado palestiniano e o que Netanyahu denominara numa ocasião “polo frito”: referira-se a que eles estavam dispostos a dar-lhes algumas terras nas que Israel não tivesse interesse e largar para ali os palestinianos, e se queriam chamar-lhe a isso um estado, podiam fazê-lo... ainda que também podiam chamar-lhe de qualquer outra forma, como “polo frito”. Assi pois, para Chomsky a chave era se os USA estavam dispostos a apoiar a criação de um estado verdadeiramente digno de tal nome ou simplemente a seguir apoiando a doutrina de Netanhayu. Na sua opinião, só houvo um momento em que os USA mudárom a sua postura, e foi brevemente durante os últimos meses da presidência de Clinton.
Na segunda parte, Chomsky analisou que possibilidades haveria na atualidade de chegar à solução dos dous estados. Amosou escassa confiança na política da administração Obama, que nem sequera está disposta a escoitar o governo eleito polos palestinianos. Porém, Obama não é exactamente continuísta, senão que avoga por reformular as suas prioridades no Oriente Próximo, querendo isto dizer, basicamente, que aposta por deixar a um lado o tema Israel-Palestina e formular uma aliança... contra o Irão. Para o qual, os USA não duvidam em se aliar com estados tão pouco modélicos como a Arábia Saudita ou o Egipto. Mas isto não significa que se deixe de apoiar a Israel; ao contrário, a ajuda USAmericana mesmo se vai incrementar.
Na terceira parte foi o turno das preguntas desde o público. Foi aqui quando nos decatamos de que, ademais da voz cascada, o bom de Noam está já algo surdo (como é natural em alguém de 80 anos). Mas não por isso deixou de respostar às preguntas que lhe fixerom durante três quartos de hora, até que a organização dixo que havia que parar. Nas suas respostas, amosou-se céptico sobre as possibilidades de que a UE ou China exerçam nenguma influência no conflito: a China por não incomodar os americanos, os europeus por não ter uma força militar própria (a respeito disto, dixo que a razão de ser da OTAN hoje em dia era principalmente manter a Europa dependente militarmente dos USA). Preguntado sobre os palestinianos que foram expulsados das suas terras antes de 1967, dixo que deveriam ser autorizados a regressar a elas, com apoio da ONU, mas que isso desgraciadamente era mui improvável. E que, se se assumia que o seu retorno era impossível, como mínimo deveriam ser relocados noutro sítio. Não todo foram preguntas amistosas: preguntado sobre se os israelis deviam aturar o lançamento de foguetes desde Palestina, se havia direito a isso, Chomsky respostou que para el, esses lançamentos eram actos criminais. E que, se não “nos” gustavam (este “nós” referido aos usamericanos), talvez deveriamos dar-lhes bilhões de dólares aos palestinianos para evitá-lo (não engadiu “como fazemos com Israel”).
Cumpre lembrar que Avram Noam Chomsky (esse é o seu nome completo), aínda que nado nos USA, é de pais judeus (seu pai era um judeu da Ukraina, sua nai da Bielorrússia), foi criado no que el descreve como um “ghetto judeu” de Philadelphia, e mesmo fijo a sua tesina sobre o hebreu moderno. Portanto, dificilmente se lhe poderá acusar de antisemitismo; e dada a sua trajectória intelectual, acho que ninguém poderá acusá-lo sem ruborizar-se de fazer parte de uma suposta esquerda pro-islamista... desqualificações que estamos afeitos a escoitar em boca de alguns quando ouvem críticas semelhantes as que fai Noam Chomsky.
Enfim, a ver se outro dia fala do socialismo libertário! ;-)
4 comentários:
Sinto unha enooooooooooorme envexa!!! Obrigada por facernos sentir algo partícipes da charla.
¿pudiste hacer alguna pregunta?
ke conste ke el chomsky ese tampoco dice cosas "espectaculares" que no conozcamos ya ;-)
Poderia ter feito alguma pregunta, mas não se me ocorreu nada. Tes razão em que neste tema, Chomsky não di nada do outro mundo... é todo de sentido comum (o que curiosamente é minoritário). Por isso dizia que bem podia ter falado doutras cousas... desde lingüística à sua conceição da política, tem opiniões muito mais interessantes.
Efectivamente, como todos sospeitabamos, son un garrulo. Coido que non lera nada de Chomsky...nunca. Tereino que arranxar
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