(esta informação, sempre parcial, pode-se complementar com as de Galicia Hoxe, Xornal, Vieiros, ou os blogues Galizia Ecosocialista, o blog do Xoán, O funambulista coxo ...)
O passado sábado 30 de janeiro tivo lugar a Rolda de Rebeldia, convocada polo Encontro Irmandinho para debater várias questões de atualidade com setores da esquerda social e política do nosso país. Cheguei ao hotel Compostela quando a primeira jeira, a “da procura”, estava rematando. Assim que apenas pudem ouvir a Eduardo Rego, Xabier Macias, Xoán Hermida e Xavier Ron debater sobre as preguntas: é o modelo de partido clássico inoperante? Compre construirmos esse novo referente político-social? E se é assim, de que modelo organizativo devemos dotar-nos? É o aceso às instituições necessário?
A seguinte era a “Jeira da Irmandade”, na que se pretendia falar sobre como criar as canles de comunicação, participação e irmandade entre a esquerda social e a política; e quais são as exigências da cidadania e dos movimentos sociais no eido da sua relação com as organizações políticas. Começou falando Antón Gómez-Reino (Tone), do centro social A treu! da Crunha. Tanto na sua intervenção como na de Xosé Maria Garcia (Verdegaia) predominou o cepticismo sobre a utilidade dos partidos atuais e a sua capacidade de impulsar mudanças do sistema. Se algo ficou claro é que a esquerda chamada “social” é também “política” (se bem isto receberia despois a matização dende o público de X.M. Beiras, quem lembrou a distinção gramsciana entre sociedade civil e sociedade política); e que não está disposta a ser instrumentalizada polos partidos (questão espinhenta que provocou, segundo lamentou Raúl Asegurado, que moitos movimentos sociais se negaram a participar na Rolda). Uma intervenção totalmente diferente foi a de Manuel Casal Lodeiro, quem fijo uma proposta audaz e radical: a apresentação de candidaturas unitárias de toda a esquerda transformadora, baixo a forma da democracia direta. Careceriam de programa eleitoral e apresentariam candidatos sem adscrição partidária, e apoiariam-se de jeito fundamental nas possibilidades que oferecem as novas tecnologias (principalmente internet) para a toma de decisões de forma assemblear e assíncrona. Não totalmente inovadora, mas interessante, ainda que talvez um pouco ingenua, e digo-o porque presupom que esta forma dificultaria a manipulação da vontade popular por parte de setores/oligarquias, algo que eu—ao igual que outros do público—não vemos claro. E de facto, o próprio Manuel Casal admitiu que isto precisaria para ter êxito da existência de meios de comunicação “livres” (“não manipuladores”, entendo eu)... pero é que, se se dera esta condição, moitas outras cousas seriam bem diferentes! E outras formas moito menos radicais seriam também eficazes. Enfim, polo menos lembramos os provos, que já é algo. A intervenção restante foi a de Goretti Sanmartín, menos concreta mas que rematou por ser uma das mais louvadas da jornada, por poética e também, em menor medida, polo fermoso galego que empregou.
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A tarde começou com a “Jeira das mil vozes”, centrada nos mecanismos e ações a empreender para afondar na criação de massas críticas que exijam um câmbio radical do nosso modelo de sociedade partindo da realidade galega de hoje. Começou Manuel M. Barreiro, quem não eludiu a autocrítica (tivo responsabilidades de governo no governo bipartito) e puxo ênfase em vários conceitos: leitura conseqüencialista das nossas ações; importância dos processos fronte as estruturas; organizações mais líquidas e transversais (comunidades de propósito); empoderamento cidadão. Uma interessante reflexão que culminou com duas citas bem diferentes: por uma banda, a constatação de Trotsky da existência das condições objectivas, pero não das subjectivas; e por outra, uma frase de Alastair Campbell, assessor de Tony Blair, dizindo que hai que pensar em como chegar ao eleitor que trabalha, coida dos filhos, viaja um pouco, e de quando em vez se interessa pola política. Outra achega heterodoxa foi a de Xoán Carlos Carreira, quem falou dos “7 sapatos sujos” de Mia Couto: hábitos que compre deixar na porta, como por exemplo o medo à discrepância—algo positivo tanto se se expressa em privado como de portas afora. Pareceu-me atinada e ilustrativa a sua visão dos problemas políticos como sistemas com mais incógnitas que equações, o que implica a existência de múltiples soluções (e o seu caráter “caótico”—ainda que eu gostaria mais de “nonlinear”—ao depender fortemente das condições iniciais). Falou também Luísa Ocampo, de Mulheres Nacionalistas Galegas; ainda que mais que falar berrou, e isto não é exageração pois quase me doem os ouvidos. Empregou ademais um tom que parecia estar a botar-nos uma bronca, algo que não me gusta especialmente (é por isso principalmente que não me é doado empatizar com Paco Rodríguez), e por se fora pouco um galego terrível, uma sorte de castrapo semi-reintegrado... moito mais pobre, por certo, que o de Mónica Alzate, colombiana que representou ao Foro Galego da Imigração e que repassou a história e as atividades desta organização.
A derradeira jeira, a “Partilhada”, era também a mais agardada (e na que mais se encheu a sala, superando—a olho—as 150 persoas), por ser onde os representantes de partidos políticos debatiam as achegas anteriores. Começou Beiras em representação do Encontro Irmandinho, enfatizando que uma força que se diga de esquerdas tem que usar as instituições sem medo a perder o poder, pois é preferível estar nel só 6 meses e que te botem, se és quem de implementar políticas que despois tardem anos em ser desmontadas. Neste senso, a labor destas forças seria a de levar às instituições as reivindicações das organizações que o sistema quer excluir. Medidas que a dia de hoje iriam a prol do equilíbrio ecológico, a prol de rachar a lógica de mercado, de agrandar o espaço social público, etc.
A seguir falou Carlos Morais (Primeira Linha), quem já começou admitindo que o seu discurso não ia estar em sintonia com a composição da sala. Abofé que não; ao igual que no documento que enviara para o debate na rolda, adicou-se a desqualificar boa parte do dito anteriormente polos demais ponentes. Apostou em troques polo que já está inventado: partido de vanguarda para liderar o movimento popular, denúncia dos pequeno-burgueses e do revisionismo posterior a Lenine e Rosa Luxemburgo. A sua crítica do conceito de “cidadania”, segundo el espúrio e conseqüência do tão pernicioso aggiornamento, traeria cola.
Mariano Abalo (FPG) adotou uma atitude totalmente oposta, tendendo pontes e urgindo a marcar a folha de rota para reconduzir o país sem mais demoras. Seria catastrófico, apontou, se quem marcasse a estrategia a seguir fosse (mais uma vez) a UPG. Rematou com voz de ânimo e otimismo, e insinuando o seu apoio a uma eventual aliança do seu partido com os descontentos do BNG, liderada por Beiras.
Foi então o turno de Xoán Bascuas, representando a +BNG em substituição de Carlos Aymerich, quem desculpara a sua ausência por um problema vocal. Levou-lhe a contrária a Morais e reivindicou o valor do conceito de cidadania; também dos partidos políticos. Observou que o modelo de democracia direta proposto por Casal Lodeiro não estava isento do risco de cair baixo control das oligarquias, sejam dum ou doutro tipo. E apostou, entre outras cousas, por vencelhar nacionalismo (autodeterminação coletiva) com participação cidadã (autodeterminação individual).
Uma vez falaram os da mesa, figero-no os representantes de outras organizações políticas, que estavam sentados na rea dianteira. Principiou Miguel Abraira (Movimento pola Base), dizindo que o problema está já em assumir a escala de valores do capitalismo. Salientou a importância da atual crise energética, sistêmica e global; e entre outras questões, a importância de pedir não só a soberania, senão a independência formal. Rematou apelando ao respeito mútuo entre nacionalistas, e afirmando que o MpB estará em qualquer processo de reagrupamento da esquerda que seja popular, e não de elites como o BNG atual.
A intervenção de Charo Lopes foi moi breve, seguramente como correspondia a quem representava uma organização plural como Causa Galiza, onde ademais participam alguns coletivos que já estavam presentes na Rolda. Quiçais o mais significativo foi o seu rechaço explícito a qualquer tipo de reforma estatutária.
Polo PCPG, Xosé Collazo começou propiciando uma das anedotas da noite, ao comentar de bom humor que não estava afeito a falar de pé e preferiria estar sentado na mesa; imediatamente Beiras ergueu-se e cedeu-lhe o posto. Expressou o seu agradecimento por ter sido convidado ao ato e parabenizou à organização por favorecer o debate, assim como polo nível das aportações. Mostrou a sua vontade de construir algo novo a partir destas idéias, e afirmou que é preciso tomar decisões com urgência neste senso. Ofereceu a disposição do PCPG a participar na construção dum espaço unitário, desde o respeito às demais forças do país.
Finalmente, Roberto Laxe (Corrente Vermelha) valorou positivamente o debate, por vir dum fracasso—o do bipartito—que não era qualquer fracasso, pois causara que alguns dos debates que celebrados na Rolda pareceram sessões de psicoanálise. Lembrou o caráter não-nacionalista da sua organização (uma das cissões do PC opostas à deriva eurocomunista), mas si autodeterminista, sendo uns dos fundadores de Causa Galiza. E apostou por se dirigir unicamente à classe trabalhadora, entendendo como tal (olho ao piolho) os trabalhadores assalariados.
Foi então o turno das intervenções desde o público, que fôrom moitas e variadas. Algumas centrárom-se em se o conceito de cidadania era acaído ou não, erguendo-se vozes desde o público que se uniam ás de Morais ou Abraira que a consideravam “retrógrada”, pois “cidadãos somos eu e Amancio Ortega, e supostamente temos os mesmos direitos, mas é mentira”; e avogando por empregar unicamente o de classe social. Isto alporizou notavelmente ao Beiras, quem defendeu que o conceito vinha da estrema esquerda revolucionária do s. XVIII (“de Robespierre, óstia!”); e que se eles defendiam, p.ex., a sanidade pública, pedia-na tanto para Ortega como para o vezinho que estava no paro. [Tenho que dizer que para mim dirigir-se não à cidadania senão à classe trabalhadora, se esta é definida como conjunto dos assalariados, pareceria-me um disparate. Por uma razão: porque implicaria incluir entre os “oprimidos a liberar” a assalariados como um juiz, um alto executivo ou um controlador aéreo (tão de moda ultimamente); e entre os “opressores a combater” a trabalhadores por conta própria como um eletricista, um pequeno labrego ou um quiosqueiro. E por certo, o Morais não tem um bar?]
Não pudem ficar até o remate, assim que me perdim os cánticos rituais (hino e internacional) e a conclusão do debate, mas coido que assistim ao fundamental. Veremos como continua o processo, pois isto não remata aqui: a Rolda é só um dos elos do Vieiro traçado polo Encontro (que maneira de falar, isto parece Tagen Ata!). Foi, isso si, um debate viçoso, tanto no tocante aos movimentos sociais como aos contatos entre partidos políticos. E aqui especialmente é onde saím com boas vibrações, pois, persoalmente, si que que penso que temos moito que ganhar com uma recomposição organizativa do campo da esquerda galega transformadora. E para a minha sorpresa atopei receptividade a esta idéia, especialmente, creo, entre a FPG, o PCPG ou o MpB—três coletivos que ao meu modo de ver deveriam confluir com urgência, entre eles e com outros, possivelmente mesmo com o Encontro Irmandinho. Para isto será imprescindível que se visualize que hai moito por ganhar; do contrário, cada setor preferirá seguir a cultivar tranquilamente a sua leira particular—e não fará sentido debater sobre o que fazer nas instituições nem cousa semelhante, porque serão inalcançáveis. Confio em que este seja um ano no que se deam passos importantes, pois a questão é urgente. E hai motivos para a esperança: olho, por exemplo, ao processo chamado FPG2010.
E pur se muove...
5 comentários:
Deixo un comentario que pretende ser constructivo, con todos os respetos á xente participante neses procesos.
Acho que, ainda que non participei na Rolda e ademáis esté en total desacordo con Morais e a súa organización, semella que fosen os máis comunistas de todas as organizacións existentes.
Digo isto non por esta crónica, que tamén, senón despois de ler todos os documentos presentados á "Rolda de Rebeldía".
Despois, e xa referíndome á crónica parece mentira que haxa comunistas que acollan tan ben os termos "cidadanía" e cousas parecidas tentando usurparlle á clase obreira o lugar de vangarda que lle corresponde historicamente.
Se hai comunistas que xa non falan de "Proletariado" e prefiren falar de "cidadanía", "multitudes", "novos suxeitos sociais"... apaga e imos para a casa porque non hai nada que facer. Parece que hai xente que se avergoña de reflexar as súas ideas comunistas, socialistas...
A Unidade non está reñida con ser firmes nos Principios, e que os máis revolucionarios e comunistas da Rolda de Rebeldía parezan os de Primeira Linha... sinceiramente, preocupame bastante.
Un saúdo de clase e revolucionario.
Viva Galiza Ceibe e SOCIALISTA!
Comunista, em primeiro lugar graças polo teu comentário.
Vejo que compartes a visão que tem Primeira Linha do que é o comunismo e de como se deve fazer a revolução. Parece-me totalmente legítimo, ainda que eu não a comparta. Vejo-a como ancorada no passado, quase "vintage", e isso não é necessariamente uma virtude. Porque para mim, ser "firme nos princípios" não implica que estes tenham que seguir sendo formulados igual que hai 100 anos. Algo temos aprendido neste tempo. E observar, reflexionar e modificar a forma de ver as cousas não é "avergonhar-se" das ideias próprias, ao contrário! É atender à dialéctica da história. Marx não teria escrito o mesmo se vivisse no s. XX. Ao meu modo de ver, nada menos revolucionário, mais acomodado, que ignorar os contributos do pensamento de esquerda DOS ÚLTIMOS 50 ANOS... porque já passou meio século desde a chamada "nova esquerda".
O pensamento socialista avança em espiral, dando voltas sobre o mesmo ponto mas alargando-se em cada volta e adotando novas perspectivas que o enriquecem. Ficar na formulação original não é mais leal, ler os manuais de Trotsky ou de Rosa Luxemburgo igual que os católicos lem o catecismo não é uma virtude revolucionária. Desprezar qualquer nova visão que se aparte do conhecido é moi cómodo, mas não moi honesto intelectualmente.
Desde logo, nos termos que ti empregas, os de PL si que eram os mais "comunistas" da rolda. Mas os representantes do MpB ou de Corrente Vermelha tampouco pareciam gostar moito do da "cidadania"... eu si, e não por empregar essa palavra estou a negar a existência de classes. E penso que a "classe obreira" não tem a exclussividade da "vanguarda revolucionária". Este é o meu modo de pensar e por isso tenho este blogue, se não escreveria em, p.ex., "Estoutras notas políticas" (um blogue mais ortodoxo que leo às vezes e que che recomendo, deveria-che gustar).
Um saúdo libertário, por uma Galiza ceive e socialista! ;-)
Moitas grazas pola ampla e valiosa referencia á miña intervención, Sr. J!
Non sei se tes activado o trackback, pero se non podes ver a reseña da reseña en http://casdeiro.info/textos/
Acerca do dos medios de comunicación... loxicamente non tiven tempo de explicalo en detalle. Non me refería a que fose unha condición previa imprescindible para botar a andar esta estratexia do anti-partido. E aí onde se diferenza doutras estratexias, como a do business as usual da política clásica.
É dicir: unha candidatura deste tipo pode botar a andar sen medios libres e acadar un éxito maior que unha tradicional (aínda que só sexa porque une os votos de varias).
Despois, é cando se acada a maioría nun concello ou nun parlamento cando é importante dispor deses medios para que a democracia directa non vire populismo. Namentres, nun estadio previo, onde os electos directodemócratas non son maioría, irían tecendo eses medios coa propia sociedade e promovendo como único programa de base prefixado a defensa do xornalismo cidadán e público baixo control cidadán.
En ningún momento quixen dicir que todos os medios debesen ser libres. Loxicamente seguirá a habelos controlados e manipuladores, pero irían sendo equilibrados polos verdadeiramente públicos.
Pois graças a ti, Manuel, por animar-te a respostar. Não conhecia o teu blogue (e não tenho o trackback) mas a partir de agora botarei-lhe uma olhada.
Aclarada a questão dos meios de comunicação. Para mim a chave está no que dis, "impedir que a democracia direta vire populismo". Parece-me complicado mas é certo que também a indireta vira populismo... e como!
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