sábado, 22 de outubro de 2011

Dan Hind: o que é o dinheiro?



(Artigo de Dan Hind em Al Jazeera, traduçom própria)

Os protestos contra as instituições financeiras mundiais estám a crescer, mas sabe a maioria das pessoas sequer de onde vem o dinheiro?

Passamos muito tempo pensando no dinheiro, de uma forma ou de outra. Pensamos em como consegui-lo, como mantê-lo seguro e como gastá-lo. Quando nom estamos dormindo, hai bastantes probabilidades de que estejamos prestando atençom ao dinheiro. Mas enquanto o dinheiro nunca está longe dos nossos pensamentos, hai algo curioso sobre a nossa relaçom com el. Apesar de todo o que o usamos ao longo do dia, a maioria de nós nom sabe o que é.

Quero dizer, sabemos o que pode fazer. Sabemos quanto temos, mais ou menos. Sabemos o que custam as cousas e por isso temos alguma idéia do que podemos gastar num momento dado. Quando começamos a pensar sobre o futuro, quanto tempo viviremos e quanto dinheiro imos precisar, tendemos a querer pensar noutra cousa. Mas o dinheiro em si escapa aos nossos cálculos. Maiormente nom pensamos em perguntar de onde vem, nem o que é em si mesmo. As vantages de ter dinheiro e as consequências de nom o ter som tam grandes que raramente paramos a pensar no dinheiro como tal.

Hoje é um dia tam bom como qualquer outro para explicar de onde vem o dinheiro e porquê importa. Na quinta-feira, o Banco da Inglaterra anunciou mais 75 bilhões de libras de "quantitative easing". Se você nom sabe o que isso significa ou vagamente pensa que tem algo que ver com "imprimir dinheiro", provavelmente é porque você nom sabe o que é o dinheiro. Todo será revelado no que segue. OK. Está você preparado para saber de onde vem o dinheiro, para conhecer a verdade zelosamente gardada desde o alvorecer do tempo registrado?

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O dinheiro deve a sua existência aos bancos

Nom hai nada complicado acontecendo nos bastidores. O grande segredo é que nom hai realmente muito segredo. Ainda assi, a verdade sobre o dinheiro elude-nos a maioria do tempo.

O economista e ironista JK Galbraith escreveu certa vez que "o processo polo qual os bancos criam dinheiro é tam simple que repele à mente. Quando algo tam importante está implicado, um profundo mistério parece mais decente". Quando se nos apresenta a verdade sem adornos, despojada de toda parvada tecnocrata, quase nom a podemos acreditar. Parece absurdo que o dinheiro deva ter origes tam humildes, como se estivesse debaixo da sua dignidade começar a sua vida quando um banqueiro pulsa uma tecla.

A verdade sobre a criaçom de moeda é um pouco como o fim de O Mago de Oz, quando se constata que nom hai um mago que todo o sabe, apenas um velho atrás de uma cortina, fazendo as cousas sobre a marcha. É mui parecido a O Mago de Oz, de feito. O livro de Frank Baum é uma parábola sobre a reforma monetária, escrito no auge da luita nos Estados Unidos entre os arquitetos das finanças corporativas e aqueles que queriam que a oferta de dinheiro fosse controlada polo público. A adaptaçom cinematográfica de 1939 trouxo a história a um novo e vasto público, mas nalgum momento do processo perdeu-se o argumento original do autor. Eu sei, que tal cousa poderia acontecer em Hollywood, de entre todos os lugares possíveis.

Assi que, os bancos criam dinheiro por meio do ato de emprestá-lo. Nom tenhem que limitar-se a emprestar o dinheiro que tenhem em depósito. Na verdade, eles podem acabar emprestando múltiplos enormes do dinheiro que possuem na reserva. Quando autorizam um empréstimo ou estendem o crédito na forma de um crédito a descoberto, o dinheiro é conjurado da nada. Os bancos, em seguida, recebem juros sobre o empréstimo. O interesse é a forma em que os bancos fam os seus lucros, assi que querem emprestar tanto como seja possível polo maior tempo possível, mesmo se o empréstimo é insustentável no longo prazo. Isto é ao que Chuck Prince queria chegar quando dixo em julho de 2007 que "quando a música pare, em termos de liquidez, as cousas serám complicadas. Mas mentres a música esteja soando, hai que sair a dançar. Nós ainda estamos dançando".

Como apontam os autores de “De onde vem o dinheiro?”, uma guia prática sobre a criaçom de dinheiro publicada pola New Economics Foundation, os bancos preferem emprestar dinheiro contra garantias existentes. Como resultado, tenhem um historial bastante ruim quando se trata de apoiar start-ups e pequenas e médias empresas que queiram expandir ou inovar. Mas som brilhantes em inflar burbulhas em imóveis comerciais e residenciais. Talvez conscientes de que o dinheiro que emprestam tem uma qualidade imaterial, os banqueiros anseiam a solidez dos tijolos e a argamassa.

Conversas inteligentes, nom tumultos

Dixem anteriormente que o Banco da Inglaterra anunciou uma nova rolda de flexibilizaçom quantitativa (quantitative easing). A “quantitative easing” (QE) ocorre quando os bancos centrais criam dinheiro novo e usam-no para comprar ativos com juros. Até agora a QE na Grande Bretanha tem sido usada para comprar títulos do governo e corporativos. Isto tem mantido os preços dos ativos e aliviado a pressom sobre os outros bancos. Os bancos cambiam ativos de valor incerto por dinheiro respaldado por crédito do governo.

Se você acha que é um pouco estranho que uma instituiçom nacional, o Banco da Inglaterra, compre títulos emitidos por outra, o Tesouro, está no certo, é-o. O governo nom quer que você pense muito nisso, por se começamos a pensar que eles, como o mago maravilhoso, estám fazendo as cousas sobre a marcha e esperando que saiam bem.

Ninguém está a afirmar que as finanças e a economia nom sejam complicadas. Mas isso nom nos deve cegar ao feito de que ambas descansam numa simplicidade cardeal - o poder de criaçom de dinheiro das instituições bancárias. Os que se lucram com esta simplicidade subjacente nunca tivérom grandes desejos de ilustrar ao público. O seu control sobre a oferta de dinheiro nunca foi objecto de debate democrático. É duvidoso que tal control sobrevivesse a qualquer debate desse tipo. Mentres os manifestantes se reúnem nos distritos financeiros do mundo, espero que sejam capazes de sacar a reforma do sistema bancário das sombras.

A orde estabelecida pode lidar com motins. Nom pode lidar com uma conversa razoável sobre o papel dos bancos na má distribuiçom do capital e na criaçom de crises.

O chanceler britânico de Finanças, George Osborne, já indicou que parte do dinheiro que fijo surgir o Banco da Inglaterra deveria ser encaminhado para as pequenas e médias empresas, numa admissom tácita de que o setor financeiro na sua forma atual nom pode apoiar de forma adequada o setor produtivo. O control privado e irresponsável da oferta de moeda - o arquétipo de privilégio inconstitucional – falhou, e esta falha está a traer miséria para milhões de persoas ao redor do mundo.

Na primavera deste ano no norte da África começou uma discussom sobre a sociedade e a economia que queremos. Agora Europa e América do Norte estám a unir-se a ela. Os problemas que enfrentamos som complicados, é verdade, mas nom tanto como querem fazer ver alguns. Começaremos a ver como resolvê-los quando tenhamos uma compreensom clara dos fundamentos de organizaçom social, incluindo as origes e a natureza do dinheiro.

É um entendimento que os atualmente poderosos prefeririam que nom tivéssemos. Afinal, como dixo outro grande ironista americano, Walter Karp, "o poder usurpado só é seguro mentres permaneça despercebido". Por muito tempo, os bancos tenhem moldado as leis da troca econômica em privado. Mesmo em meio de uma crise da dívida, o seu privilégio tem escapado polo de agora ao nosso entendimento. Chegou o momento de que se torne o objeto da nossa atençom constante e paciente.


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