Já foi...
O dia seguinte à XIII Assembléia Nacional dei-me de baixa como militante do BNG. A paciência nunca foi a melhor das minhas virtudes, e já nom tinha vontade de seguir enleado em dialéticas internas, que nada aportam (nem “clarificam”) e que tam só servem para distrair a atençom da militância. Na dinâmica na que leva tempo imerso o BNG, o verdadeiramente importante (propor-lhe à cidadania galega uma alternativa ao horror neoliberal-espanholeiro dominante) adia-se continuamente ante o urgente (a necessidade fatigante e absorvente de marcar território internamente). O BNG já nom lhe oferece ao povo galego um projeto de país concreto, um plano de acçom com objetivos realizáveis a curto, meio e longo prazo. No seu lugar, propom reconcentrar-se num discurso de "mais nacionalismo", válido talvez para o consumo interno, mas que nada oferece aos segmentos da sociedade que ano trás ano se fôrom desencantando com o BNG. No percorrido desde os quase 400.000 votos que colheitava hai 15 anos à metade que tem agora foi-se perdendo a conexom com muitas gentes que viram algo diferente no BNG: uma força “com jeito”, uma esquerda audaz com os pés na terra, nom sectária, aberta aos segmentos mais dinâmicos e críticos da sociedade. Uma boa parte da cidadania progressista galega perdeu a confiança no BNG, entre outros motivos (nom todos endógenos, certo) porque este leva tempo empenhado em que assi seja. Velaí o desprezo cara as novas formas de descontento popular (de Galiza Nom se Vende ao 15-M), que pode ser considerado um sintoma ou uma causa, ao gosto do consumidor. Nom falo já de outras circunstâncias relacionadas com o deterioro da convivência interna, nom porque nom tenham importância nem muito menos, senom por nom botar mais lenha ao lume. Nom che estamos no momento de reviver rancores, por muito que seja uma atividade à que se adicam gostosos tantos internautas. Enfim, sei que as razões apontadas podem parecer um tanto etéreas, e que a situaçom é difícil de entender desde fora... poderia estender-me mais, mas a análise do passado nom é o mais importante agora. O fundamental resume-se em que o BNG é a dia de hoje uma ferramenta infrautilizada sem remédio à vista, e que portanto é preciso atuar fora del.
A que andamos:
Pois já estamos a pôr os alicerces dum novo projeto que procure uma saída a este enguedelho, e neste senso a assembléia do Encontro Irmandinho do passado 12 de Fevereiro representou um ilusionante ponto de inflexom. Foi-che o que se di um evento singular, onde se percebeu claramente como mudava o ambiente segundo passava o tempo. Ao chegar palpava-se uma incerteza generalizada, ninguém as tinha todas consigo. Mas fôrom sucedendo-se as intervenções, umas trinta, e vimos que todas (com uma única exceçom) iam na mesma direçom, deixar o BNG e principiar um projeto novo. O mais importante, com todo, nom foi a unanimidade das intervenções: nom era tanto o contido, senom o tom. Gerou-se uma onda de ilusom, de pensar em positivo depois de muito tempo, nas possibilidades que se abrem em lugar de nos males menores. Entre os centos de persoas que assistimos (as cifras variam segundo as fontes, entre 500 e 800; seguramente mais perto da primeira, mas em todo caso muita gente) o ambiente virou em otimismo ao longo da tarde. E assi, quando chegou o momento de decidir, nom houvo nem sequera que votar, já que aprovamos por aclamaçom fretarmos um novo barco e sair a navegar por novos rumos. E nessas andamos agora, no começo desse processo, que é logicamente a construçom duma nova nave.
Cara onde tirar?
O fracasso do modelo frentista no BNG dá uma primeira chave: melhor criar UM PARTIDO que uma frente. Um partido que, evidentemente, será de ESQUERDA, uma esquerda plural onde tenham cabida -visto os agentes implicados- desde a socialdemocracia clássica até o comunismo. Logicamente terá caráter nacional galego, chame-se soberanista se se quer. O modelo dum partido com ideologia definida mas plural nom é nenguma utopia; ao contrário, é o que seguem alguns dos exemplos mais válidos da esquerda atual, como a alemã Die Linke, o brasileiro Partido dos Trabalhadores, ou mais perto de nós o Bloco de Esquerda português. Assi pois, que gentes poderiamos conformar este novo sujeito? É claro que, como mínimo, o Encontro Irmandinho, Esquerda Nacionalista, e Ecogaleguistas, três forças que já estám, de iure ou de facto, fora do BNG. A maiores, toda a gente de Mais Galiza que decida dar o passo de deixar o BNG; nom creo que todos o fagam, mas si que vam ser muitos em qualquer caso. Nom tenho claro que este deva ser o projecto do PNG-PG, que na minha opiniom deveria tentar construir um polo de centro nacionalista à margem dos projetos atuais... mas vendo que o seu líder, o Xosé Mosquera, se identifica com o PT de Lula, nom tenho nada que objectar ;-) Por suposto, cumpre incorporar tamém a gente que deixou o BNG em diferentes momentos e agora nom tem adscriçom partidária; muitos já se achegárom, ou o estám a fazer. Tamém a gente do campo da autodenominada esquerda independentista, de forças como o Movimento pola Base, a Frente Popular Galega, a OLN, etc. Dentro deste último setor, é significativo que Causa Galiza decidisse começar conversas oficiais com o Encontro de cara a uma possível confluência. A fim de contas, uma das intervenções mais celebradas na assembléia do EI foi a de ‘Foz’. E, finalmente, nom me colhe dúvida de que, se finalmente somos quem de artelhar um projeto destas características, imo-nos topar mais cedo que tarde com muita gente sem experiência militante em nengum partido; gente com inquedanzas políticas, mas que até agora nom se achegara aos partidos que existiam no campo da esquerda ou o nacionalismo.
Haverá que ver em que fica todo, mas como versom atualizada do conto da leiteira, coido que nom está mal ;-)
Um comentário:
Este post complementa-se com as seguintes ligações de interesse:
- Crónica da Assembleia Nacional Extraordinária do Encontro Irmandinho, a cargo de Paula Vázquez Verao: http://revoltairmandinha.blogspot.com/2012/02/cronica-da-asemblea-extraordinaria-do.html
- Resoluçom da Assembleia: http://www.encontroirmandinho.org/artigo.php?ap=2000&id=213&tm=0
- Intervençom de Raúl Asegurado: http://raulasegurado.wordpress.com/2012/02/13/intervencion-na-asemblea-extraordinaria-do-ei/
Bom proveito! :-)
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